quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Curta com veteranos da rua do Triunfo é premiado em Recife
O curta-metragem Lembranças de
Mayo recebeu o prêmio de melhor filme na VII Janela Internacional de
Recife que acabou no domingo retrasado (dia 15). A produção mineira de 28
minutos é a estreia do diretor Flávio C. von Sperling, o Flamingo, e teve no
elenco dois nomes conhecidos do cinema da Rua do Triunfo: Cláudio Cunha e
Nicole Puzzi. "A Boca [do Lixo] foi o ciclo mais diverso, rico, livre e
debochado do nosso cinema", opina o realizador.
A história do curta gira em torno do namoro da atriz Zilda (Nicole Puzzi) com um músico mais jovem (Samuel Marotta). O rapaz apresenta a musa ao pai (Cláudio Cunha), fã da atriz no passado. O triângulo amoroso está formado. Flamingo está esbanjando otimismo com seu filme. "Vamos enviar para todos os festivais. Espero que o curta tenha uma carreira interessante e seja visto pelo maior número possível de pessoas."
O jovem realizador só lamenta que Lembranças
de Mayo seja o último trabalho de Cláudio Cunha no cinema. O ator
morreu em abril deste ano sem ver o curta pronto. "É um misto de uma
tristeza terrível de ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa
oportunidade de trabalharmos juntos", resume Flamingo. VICE conversou com
ele.
Violão, Sardinha e
Pão- Qual é a emoção de o filme ter sido premiado na Janela Internacional de
Recife?
Flamingo: Impossível ter
estreia melhor. Vê-lo na tela do Cine São Luiz com o carinho que o Janela
Internacional tem com os filmes já foi um prêmio. Confesso que não imaginava
ser premiado. É uma comédia (gênero historicamente tratado como menor), além de
a mostra competitiva brasileira ter sido recheada de muitos filmes bons.
Agradeço ao júri e, sobretudo, a todo mundo que soltou aquelas risadas que ouvi
durante a sessão – que foi linda. O filme tá aí pra isso.
Como surgiu a ideia
do curta Lembranças de Mayo?
A ideia surgiu em meados de 2012. O
Maurílio Martins, da produtora Filmes de Plástico, surgiu com a primeira ideia
[de] que devíamos fazer um filme chamado Lembranças de Mayo. Sempre
falávamos isso, sempre papo de boteco. Em 2013, me reuni com meus sócios
Leonardo Amaral e Samuel Marotta, e, embalados na cachaça, fizemos uma espécie
de escaleta, apontando cenas e situações. A partir disso, desenvolvi o roteiro.
Qual influência o cinema
da Boca teve no curta?
O filme foi uma homenagem, uma
declaração de amor a esse tipo de cinema, sobretudo às atrizes. A Boca foi o
ciclo mais diverso, rico, livre e debochado do nosso cinema, tendo produzido de
tudo: filmes de horror, guerra, comédias eróticas, musicais, caipiras – viva
Carcaça –, westerns. As chamadas pornochanchadas são os filmes com os quais o Lembranças se
relaciona de maneira mais explícita. O filme tem signos, tropos, clichês
típicos do gênero: cena de voyeurismo, a figura do 'corno', etc., além de
recursos de linguagem caros ao gênero homenageado (e ao cinema italiano
popular, outra grandíssima influência para mim e para o filme).
É verdade que
inicialmente você queria a atriz Zilda Mayo para o papel principal?
Sim. Cheguei a visitá-la em Araraquara.
Zilda foi um doce, e conversamos uma tarde inteira sobre cinema. Nem chegamos a
falar especificamente do roteiro, ela leu depois de nos despedirmos. Ela me
ligou, agradecendo e [se] mostrando lisonjeada com a homenagem. Mas ela optou por
não atuar no filme. Algumas cenas, ela achava delicada. Ela estava num momento
pessoal difícil.
Como foi trabalhar
com o Cláudio Cunha?
Cláudio é cinema. Ator gigante e cineasta maior ainda. Ator seguro: não ensaiávamos (apenas quando tinha mais gente em cena ou movimento de câmera), apesar de termos filmado em película e com poucas latas. Ele me passava essa segurança. Além de ser a alegria do set. Qualquer segundo de respiro (entre planos, momentos de refeições, etc.), ele chegava com as piadas horríveis que se tornavam geniais quando contadas pelo Cláudio.
Cláudio é cinema. Ator gigante e cineasta maior ainda. Ator seguro: não ensaiávamos (apenas quando tinha mais gente em cena ou movimento de câmera), apesar de termos filmado em película e com poucas latas. Ele me passava essa segurança. Além de ser a alegria do set. Qualquer segundo de respiro (entre planos, momentos de refeições, etc.), ele chegava com as piadas horríveis que se tornavam geniais quando contadas pelo Cláudio.
E a Nicole?
Nicole tem aquilo que poucas atrizes têm: uma presença natural quase mística. Nos detalhes, no olhar. Ela e a câmera se conhecem. Se amam, aliás. A experiência e o talento extensos da Nicole me ajudaram muito a ter segurança na hora de dirigi-la. Foi, graças a ela, um desafio muito menor do que eu antecipava.
Nicole tem aquilo que poucas atrizes têm: uma presença natural quase mística. Nos detalhes, no olhar. Ela e a câmera se conhecem. Se amam, aliás. A experiência e o talento extensos da Nicole me ajudaram muito a ter segurança na hora de dirigi-la. Foi, graças a ela, um desafio muito menor do que eu antecipava.
Quais as maiores
dificuldades que você teve na produção do curta?
Filmamos em dezesseis milímetros. Tínhamos apenas seis latas de 66 minutos para uma fita de 30 minutos. Vacilou, já era. O filme tem dois planos-sequência e um plano da [cantora] Flávia Falcão cantando uma música inteira para a câmera. Dá aquele medo de errar e faltar. Graças à equipe e ao elenco, conseguimos filmar tudo na conta certa. Foi o primeiro filme que dirigi em película, e esse desafio de faltar filme me ensinou a dar mais atenção aos ensaios. Acredito que também ganhei mais segurança para a minha próxima direção.
Filmamos em dezesseis milímetros. Tínhamos apenas seis latas de 66 minutos para uma fita de 30 minutos. Vacilou, já era. O filme tem dois planos-sequência e um plano da [cantora] Flávia Falcão cantando uma música inteira para a câmera. Dá aquele medo de errar e faltar. Graças à equipe e ao elenco, conseguimos filmar tudo na conta certa. Foi o primeiro filme que dirigi em película, e esse desafio de faltar filme me ensinou a dar mais atenção aos ensaios. Acredito que também ganhei mais segurança para a minha próxima direção.
Como você se sente
por seu filme ser o último trabalho do Cláudio Cunha no cinema?
É um misto de uma tristeza terrível de
ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa oportunidade. É uma
responsabilidade tremenda ter feito o último filme dele, e me dói profundamente
que ele tenha ido sem poder assistir ao nosso filme.
Lembranças de Mayo vai ser exibido
em mais festivais?
O filme foi convidado para a mostra
Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre, e mesmo no Cine Under, no Recife. Por
enquanto, essas são as exibições marcadas. Mas agora vamos começar a enviar
para todos os festivais e mostras. Espero que tenha uma carreira interessante e
seja visto pelo maior número possível de pessoas.
Quais são seus novos
projetos?
Não tem nenhum filme prestes a ser
realizado agora. Os projetos ainda estão em fase de argumento ou roteiro. Posso
dizer, sem dúvidas, que a Boca tem influência em tudo que fiz/faço/fizer. Mas
meus próximos projetos não terão essa relação tão explícita com a Boca como o Lembranças
de Mayo.
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Zilda Mayo
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Memórias da Boca estreia dia 10/12
O longa-metragem Memórias da Boca estreia no dia 10 de
dezembro no Caixa Belas Artes (rua da Consolação, 2423). O filme é composto por
oito episódios que misturam ficção e documentário evocando o polo
cinematográfico de São Paulo entre os anos 1960 e 1980. Seguem as descrições dos episódios que compõe
o filme de 84 minutos:
Amigas para Sempre –
comédia de Alfredo Sternheim com Elisabeth Hartmann e Neide Ribeiro. Elas
interpretam duas atrizes do cinema da Boca que se encontra em um café. A
conversa, inicialmente fraterna em meios às lembranças, descamba para uma
intensa discussão.
Passagem de Tempo –
documentário de Mário Vaz Filho. O diretor narra o surgimento da Embrapi,
produtora independente formada por dez cineastas da Boca para ser uma
alternativa às empresas tradicionais. Homenageia aos falecidos Ody Fraga, Jean
Garrett, Antonio Moreiras e Cláudio Portioli.
Bangue-bangue – de
Valdir Baptista. Com Walter Wanny e José Índio Lopes. Diálogo nostálgico e
brincalhão entre dois técnicos e atores faz evocação da feitura dos westerns no
Cinema da Boca. Cenas de filmes e depoimento do crítico Rodrigo Pereira e Mário
Vaz Filho.
Entrando pelo Cano –
comédia de Tony D´Ciambra, com Amanda Banffy, Eduardo Silva, Gilda
Vandenbrande, Zé da Ilha. Um encanador, por engano, vai parar em um prostíbulo
da Boca do Lixo onde uma atendente o trata como cliente agendado para condutas
bizarras.
Triumpho 134 – Os Cineclubes na Boca do Lixo - de Diogo Gomes dos Santos. Com imagens da época e depoimentos de Alain
Fresnot, André Gatti, entre outros, o filme resgata a importância do movimento
cineclubista no local e na época da Ditadura Militar.
Experiência Macabra –
de Clery Cunha. Com cenas de Joelma, 23º
andar, que dirigiu em 1980, o cineasta Cunha lembra um fato cômico envolvendo o ator Carlos Marques durante as
filmagens em um depósito funerário.
Autofilmagem – de José Mojica Marins. Um
passeio atual com José Mojica Marins pela rua do Triunfo. Ele discorre sobre a importância e a
versatilidade do cinema da Boca, lembra também a solidariedade que existia e
que ajudou a viabilizar vários projetos de muitos cineastas.
Mil
Cinemas – de
Diomédio Piskator. Com Débora Muniz, Mel Lisboa, Carla Gobbi, Beto Magnani,
Osvaldo Gonçalves, Juan Carlos Alarcón, Wilson Sampson e outros.
Metalinguístico, encena em linguagem fragmentada e com humor, os bastidores de
uma filmagem atual na Boca do Lixo.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Bia Seidl fala sobre Walter Hugo Khoury
20 perguntas para BIA
SEIDL
A linda rival de Maitê
Proença em Dona Beija fala sobre os bastidores da novela que ameaçou a Globo,
seu novo filme, suas paixões e até como ela dorme
A mistura austríaca por
parte de pai, Theopilo, com o sangue italiano da mãe, Alice, deu um belo
resultado: Maria Beatriz Seidl, carioca da Tijuca, 24 anos, é uma das belas
atrizes da televisão. Como a Aninha Felizardo, foi a rival de Maitê Proença no
maior fenômeno de audiência da rede Manchete, a novela Dona Beija. Junto com a
atriz Vera Fischer, Bia foi a única atriz brasileira a ser convidada para
estrelar o comercial do “sabonete das estrelas”. No próximo mês, chega aos
cinemas seu primeiro filme, Berenice,
dirigido pelo cineasta Walter Hugo Khoury. Um sucesso que Bia atinge após cinco
anos de duro aprendizado. Saindo de um casamento com o cantor Ronnie Von, Bia
tem ainda muitas aspirações: fazer teatro é apenas a primeira delas, como conta
nesta entrevista, com o redator-chefe Carlos Costa, feita durante um tranquilo
almoço numa tarde de domingo, no Negresco, em Ipanema.
1.
PLAYBOY: Você foi a única
atriz brasileira, ao lado de Vera Fischer, a ser escolhida para o famoso
anúncio do Lux, o “sabonete das estrelas”. Como foi?
BIA SEIDL: Parece que
fizeram uma pesquisa de rua, e Vera e eu fomos as escolhidas dentro de um
padrão de beleza que eles querem associar ao sabonete. Não sei que trabalho
teria chegado a fixar meu nome com o público, porque afinal ainda não pintou
nenhuma Porcina na minha vida ! (risos) E, além disso, sempre fiz papéis de
mulheres malvadas. Só agora, na novela Dona
Beija, é que fiz uma mulher mais boazinha.
2.
PLAYBOY: Foi por esse
perfil de loura inacessível que o Walter Hugo Khoury te convidou para o filme Berenice?
BIA SEIDL: Não ! (risos)
O próprio Khoury me disse que eu não era uma “coisinha”. Agora, fico uma fera quando
chegam com o papo de que sou uma Catherine Deneuve, uma vênus gelada. Não sou
assexuada! Certo, eu me protejo, não estou sem guarda-chuva, sou cerebral,
crítica, mas fria, nunca! Sou uma vênus quente. Meu lado italiano, o Parpinelli
de mamãe, uma calabresa, não deixa a paixão esfriar. Sou movida a paixão!
3.
PLAYBOY: E como foi que
você descobriu essa sensualidade toda?
BIA SEIDL: Foi uma coisa
linda, saudável, bem lenta. Com 11 anos já namorava um rapaz de 13. Eu não era
o tipo “sapeca”, era séria, cheia de ideal, rígida. Só agora é que estou me
dando o direto de relaxar, de ser leve. Mas com 15 anos eu queria casar, morar
com meu namorado. E não estava pronta! Aliás, não estou pronta até hoje. Não
quero nunca estar pronta. Estou descobrindo ainda a sexualidade a cada dia,
acho que tem muita coisa para acontecer, não tenho pressa.
4.
PLAYBOY: Como foi o
despertar da mulher, para você?
BIA SEIDL: Foi meio feito
cacho de banana colocado em jornal e amadurecendo a força. Com 15 anos era
quase uma mulher, já batalhando. Cresci na Tijuca, Conde de Bonfim e Largo da
Segunda-Feira. Com 12 trabalhava em teatro infantil, com 16 era manequim,
fotografando moda. Mas o sonho, desde menina, era ser atriz. Então, o Alexandre
Lannes, apostou em mim, me levou pra conhecer o Mário Lúcio Vaz, na época
diretor da Divisão de Novelas da Globo. Ele me explicou que era difícil, que eu
estaria entre leões e tinha que segurar. Fiz ponta em O Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu, e passei na linha de show,
fazendo o programa do Agildo Ribeiro. Foi uma barra, eu me assustei.
5.
PLAYBOY: O que você quer
dizer com barra? O Agildo? O esquema?
BIA SEIDL: Não! Mas é
difícil explicar, eu não via chance de conseguir espaço, achava as pessoas
muito distantes, com medo até de falar – de falar delas, da vida, de serem
pessoas. Nessa época eu estava sem dinheiro, com um filho para criar, o Daniel,
que tive aos 17 anos, precisava trabalhar, foi duro. Fui falar com o Augusto
César Vanucci, diretor de shows, e ele me disse, com carinho: “Você não sabe
fazer rir e nunca vai ficar mostrando as pernas. Então, vai procurar seu lugar
nas novelas”. Eu consegui um papel em Paraíso, escalada pelo Gonzaga Blota. O
autor, Benedito Ruy Barbosa, me “pescou” e aí começaram a pintar as coisas.
6.
PLAYBOY: Um projeto de
menina que começava a virar realidade...
BIA SEIDL: Muitos me
ajudaram. A começar pela direção da novela. O diretor, Ari Coslov, deu muitas
dicas. Aprendi muito com o Wolf Maia, quando fiz com ele Louco Amor. Um dia, ele gritou comigo: “Será que você não entende
que está trabalhando com raposas? Acorda! Ou cai na real ou será comida!” Eu
sempre quis aprender, ia lá, cutucar, fuçar, pedir explicação. Tem muito o
lance de observar, porque a câmera ensina, o assistente ensina. Precisa é
encarar e batalhar. Aos poucos fui conseguindo.
7.
PLAYBOY: E o sucesso de Dona Beija?
BIA SEIDL: Não foi bom,
foi ótimo! Um trabalho muito especial, projeto ousado para a emissora, que a
gente conseguiu cumprir com sucesso. É bom saber que participei desse estouro,
dessa surpresa da Manchete. E os motivos do sucesso são muitos. Por um lado,
como diz o Adolfo Bloch, a história tem todos os ingredientes que o público
gosta: padre, rendez-vous e política. Eu acrescentaria: tem amor. Apesar de ser
uma novela de época, está muito perto da nossa vida.
8.
PLAYBOY: Mas a razão do
sucesso não seria muito erotismo da belíssima Beija Maitê Proença?
BIA SEIDL: Acho que há um
certo cansaço do naturalismo na TV, esse lance de encontrar no vídeo os mesmos
tipos que se encontram ali na rua. E Dona
Beija, além de ser uma novela de época, tinha a história dos equívocos de
uma mulher. Mas sucesso é trabalho bem-feito, mas aquele click que dá certo e
nem sempre se sabe bem por quê. Agora, tentar explicar o sucesso da novela só
pelo erotismo é muito pouco, convenhamos!
9.
PLAYBOY: Dava para sentir
esse sucesso enquanto estavam gravando?
BIA SEIDL: Não é uma
coisa que se sinta no estúdio, claro. Ali se trabalhava e muito. Mas é certo
que houve um clima de satisfação, e isso foi muito bom. Fazer fracasso é chato,
ninguém gosta, né? Cria um ambiente de incerteza, de que vai haver mudanças, as
pessoas se odeiam, o diretor fica inseguro. Então, foi bom a Manchete ter
ousado e acertado com Beija.
10.
PLAYBOY: É diferente
trabalhar na Manchete, comparado com a Globo?
BIA SEIDL: É e não é. O
trabalho pessoal, que é realmente o importante, esse continua o mesmo, é feito
em casa, criando o personagem, decorando textos. A tensão é a mesma, que é o
próprio trabalho em televisão. Mas Dona
Beija foi um trabalho especial, e o convívio com o diretor Herval Rossano
foi revigorante. Eu havia feito com ele A
Gama Comeu, foi uma prova de fogo viver a Gláucia, uma tremenda
mau-caráter. O Herval quer tudo ao mesmo tempo, emoção e técnica, e ele joga
alto, é rápido. É preciso ficar muito ligada para aproveitar tudo, aprender.
11.
PLAYBOY: E como foi o
relacionamento com a Maitê, que, afinal, era a estrela da novela?
BIA SEIDL: Ah, a Maitê é
uma pessoa muito especial! No final da novela, acabamos nos aproximando muito.
No último dia de gravação, na saída do prédio da Manchete, nós nos abraçamos.
Ela me disse que se eu precisasse de uma amiga pra desabafar, confiar um
segredo, contasse pra ela. Abraçada com ela, eu disse que não era por acaso que
ela havia feito o sucesso que fez. Porque há o lance da “construção” em toda
atriz. E a Maitê já chegou lá. Ela é lenda, de uma beleza tocante, mas é mais
bela ainda como pessoa. Ela é grande! Aí, nós duas choramos. Afinal, são poucos
os momentos em que se pode ser apenas emoção, ainda mais eu, que sou
virginiana, e quase não me permitia isso. E o momento atual da minha vida está
sendo só emoção. É o coração que está batendo, e isso é lindo, encontrar
pessoas!
12.
PLAYBOY: Quem são as
grandes atrizes, pontos de referência em sua “construção”?
BIA SEIDL: Taí uma
difícil questão – porque são muitas. Mas Tereza Rachel, Marília Pêra, Nathalia
Timberg são grandes nomes, como Nicette Bruno e Arlete Sales. Se bem que sou
suspeita para falar em Arlete, grande figura no meu coração. Já, entre os
atores, minha lista não deixaria de fora o Ary Fontoura, um senhor ator. E o
Tarcísio Meira, essa pessoa gostosa, carinhosa. Admiro a seriedade profissional
desse homem que se joga de corpo e alma, vai fundo no que se faz.
13.
PLAYBOY: O seu encontro
com ele no filme Berenice, de Khoury,
foi decisivo?
BIA SEIDL: Pra começar,
porque Berenice é meu primeiro filme,
espero que o primeiro de muitos. Se pudesse, faria carreira no cinema – mas
isso só seria possível se tivesse muito dinheiro guardado (risos). O Khoury foi
especial para mim desde nosso primeiro encontro. Eu tinha medo de aceitar o
convite, medo do desafio de fazer cinema, e do tema, o incesto. E o Khoury me
disse que tinha certeza de que eu faria bem o papel. Achei que era apenas um
truque dele para eu aceitar, mas depois senti a qualidade do trabalho dele:
nunca fui tão bem tratada profissionalmente. Ele sabe exatamente o que quer,
falamos a mesma língua, e eu me senti realmente uma atriz, instrumento nas mãos
de um diretor. Ah, e isso é tão bom!
14.
PLAYBOY: Mas a pergunta
era sobre o encontro com o Tarcísio Meira.
BIA SEIDL: Eu havia
entendido, mas precisava falar tudo isso do Khoury. O Tarcísio, no filme, é meu
pai, e é em torno dessa relação pai-filha – que chega ao extremo da entrega –
que gira toda a história. E o Tarcísio está numa fase linda da vida dele. Teve
a coragem de questionar a imagem do galã, deu um “banho” como o Hermógenes no
seriado Grande Sertão, “roubou” as
cenas com seu desempenho num papel pequeno; fez o difícil papel de protagonista
em Berenice, estava agora em São
Paulo com a peça Um Dia Muito Especial,
onde fazia um homossexual. Ele tem garra!
15.
PLAYBOY: Como foram as
filmagens de Berenice?
BIA SEIDL: Fiquei um mês
em Ilhabela com toda a equipe. Cinema é complicado, eu tenho medo de perder o
fio, não se tem uma ideia de como ficará o trabalho, é outra técnica. A cena do
incesto – que na realidade é o contexto geral de todo o filme, a loucura total
– foi a que gravamos por último, quando quase toda a equipe tinha ido embora.
Era particularmente difícil, mas o Khoury soube conduzir a cena, foi lindo, num
quarto, com muita plasticidade. O Khoury é um dos últimos elegantes, homem de
enviar flores, chocolate. E eu sou uma pessoa bem comum, adoro ser paparicada. São
essas pequenas surpresas que fazem a gente gostar da vida.
16.
PLAYBOY: E o que mais te
desgosta num homem?
BIA SEIDL: A falta de
humildade, a vaidade, a prepotência. Deus me livre também dos machões! Não
preciso de quantidade, vale muito mais o lance da qualidade, um homem que me
sensibilize, fascinante e inteligente, que me mobilize, me deixe de quatro,
como se diz. Agora, se tem coisa que não tolero em um homem é falta de
educação, das coisas primárias ás mais íntimas, num relacionamento mais
pessoal.
17.
PLAYBOY: E a política, é
um assunto que te preocupa?
BIA SEIDL: Claro, embora
não seja de subir em palanque e fazer campanha. Votei no Brizola – não, não
estou arrependida, porque eu acreditava. Mas, quando um homem se perde em
pequenas rixas, perde também seu crédito! E, além do mais, eu sou a favor do
pacote! (risos) Se tiver que ir a à luta, eu vou porque nunca vi o brasileiro
tão engajado, patriota, pela primeira vez mobilizando, em função do Plano
Cruzado. E bonito sentir como as pessoas assumiram sua responsabilidade como
cidadãos! O país é outro, nos últimos tempos. Agora, claro que eu entendo o
papel do Brizola, a ele cabe ser oposição, não é? Mas cá para nós, o Rio não tem
dado muita sorte, poxa! (risos).
18.
PLAYBOY: Como é o dia-a-dia
de Bia Seidl?
BIA SEIDL: Não tem muita
rotina. Há o trabalho de dona de casa, de contas a pagar, supermercado,
telefonemas para acertar os compromissos, levar meu filho Daniel, de seis anos,
ao Colégio Andrews, encontrar um tempo de ver cinema, ou teatro. Mas não tenho
programação fechada de academia, aulas de balé, empostação de voz (risos).
E...sou também muito preguiçosa. É um sufoco levantar cedo...E adoro doces: sou
uma formiga.
19.
PLAYBOY: E essa
formiguinha é feliz?
BIA SEIDL: Ser feliz é
ter paz de espírito, estar de acordo com seus deuses, seus astros, seu eu. Se
encontrando nas coisas, encontrando coerências em suas incoerências, conviver
com seus medos. E isso é trabalho de muito tempo. (Ri, assume uma expressão
sonhadora). Você não vai perguntar como eu durmo?
20.
PLAYBOY: Como você dorme?
BIA SEIDL: (rindo muito)
Adorei quando li em PLAYBOY a resposta da Regina Duarte, dizendo que dorme de
blusão e meia. Eu não uso Chanel número 5: durmo apenas com uma camisa de
malha.
Publicado originalmente
na revista Playboy 133 em agosto de 1986
Marcadores:
Bia Seidl,
Maitê Proença,
Playboy,
Tarcísio Meira,
Walter Hugo Khouri
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Exposição Zé do Caixão no MIS São Paulo
Dedicada a obra do
cineasta José Mojica Marins, a exposição Á
Meia Noite Levarei Sua Alma está em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som)
de São Paulo até o dia 10 de janeiro de 2016. O público pode conhecer pela
primeira vez fotografias, objetos cênicos, figurinos, roteiros e inúmeros itens
dos bastidores de produções do personagem Zé do Caixão. Parte expressiva da
exposição veio diretamente do acervo pessoal de Mojica e sua filha Liz.
Alguns itens curiosos
do acervo são os cartazes originais dos filmes de Mojica e santinhos de sua
candidatura a deputado federal nos anos 1980. O público também pode ver roupas utilizadas
por ele em seu filme mais recente (A
Encarnação do Demônio de 2008). Estive na exposição e recomendo muito aos
fãs de cinema brasileiro.
O MIS fica localizado
na avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo. Os ingressos custam R$ 10. O
museu abre das terças aos sábados das 12h ás 20h e domingos e feriados das 11h
ás 19h.
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